terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Ipoema / MG de 27.12.2009 a 07.01.2010

A viagem durou quadro dias de chuva absoluta e outros sete dias de sol completo. Quaaaaase desistimos. Foi difícil perseverar. Mas fizemos e fomos presenteados. Viajamos: eu, Marcelo, Diogo, Ju, Chico (Francesco! Francisquinho!), Daniel e Valerie. Como sempre, formamos um grupo excelente! Esses meus amigos, nas mais diversas formações viajantes que já compusemos nunca me decepcionaram!!!
Chegamos no avançado da noite do dia 27 já que acabamos por sair tarde de SP e pegamos muita chuva na estrada. Nessa primeira noite dormimos, tão logo chegamos, na pousada do Tomás.
A idéia inicial era acampar no camping da Cachoeira do Patrocínio, porém o acesso com essa quantidade de chuva caindo do céu é impossível. Aliás, explicando minimamente Ipoema: a pequena cidade tem 3 cachoeiras principais, todas do mesmo rio - a Cachoeira Alta com uma queda de 110 metros de altura, a Cachoeira do Meio e a Cachoeira do Patrocínio. Estávamos em 2 carros: a Mama Tanque, como foi gentilmente nomeado o carro de tiozinho do Veloso e nosso Peugeot onde íamos Celo e eu. Estávamos cheios até as tampas de mantimentos e artigos de acampamento.
No café da manhã do dia 28 no Tomás conversamos longamente e calmamente (já que nada havia para fazer com tanta chuva) sobre o destino da viagem. Super Tomás sugeiru uma casa que viraria Hotel-Fazenda mas que estava começando e que, portanto, o dono poderia se interessar em nos fazer um bom preço. Por telefone mesmo, Tomás já lançou pro Délio (dono da casa) que ele deveria cobrar uns 15 reais por pessoa - o mesmo que pagaríamos no camping. Aí sim! Viva o Tomás - a descrição da casa era ultra-sedutora. Tudo acertado, fomos dar uma volta a pé na cidade para depois encontrar o Nélio. Comprinhas, queijinhos e céu nublado.
De volta a pousada, eu e Chico (e depois todos) tomamos banho de piscina à espera do Amélio chegar. Assim que ele chegou e acertou tudo, agilizamos e partimos para a casa.

Na viagem (por que foi uma viaaagem), seguindo o 4x4 de Zélio, na pior subida, um tiozinho bem velhinho se postou no pior ponto da subida para pedir carona. Hélio passou, nós passamos, já a Mama... não teve jeito! Não pode xingar velhinho, mas... porra mano!!! O velhinho mesmo só sossegou quando conseguiu entrar no carro de Vélio para caronear."O carro 'garrou", disse quando resgatou a Mama e seguimos caminho...
Eis que foi ficando loooonge, loooooonge, loooooooooooooonge... ficamos um pouco apavorados com tanto sobe e desce de ladeira de barro. Chegando, Nélio e sua mulher deram um trato na casa para nós. Na hora de partir ele avisou que deixava a casa de presente para nós, que o Papai Noel havia nos dado de presente - para ficarmos o quanto quisermos sem pagar nada. E eu que nem acreditava em Papai Noel. Me assusta como atraímos isso, esse tipo de gente e situação a favor de nós. Não é a primeiro, e espero, não será a última vez que isso nos acontece. Ficamos de queixo caído. Uma casa com 11 quartos, sauna, duas piscinas, churrasqueira, mesa de sinuca, cozinha industrial... mas fato é: isso não mudava o fato! Fato de que ainda sim chovia sem parar e ainda sim a casa era no fim do mundo (e também parecia um pouco o cenário do Iluminado). Nós sabíamos que não podíamos ceder ao conforto da casa (aliás, cheias de aranhas e escorpiões).
Jantar - na mega cozinha - foi: lentilha com cenoura, arroz, batata cozida, linguiça e salada de repolho, pepino e cebola. Boooooom! Isso é só o começo de nosso profissionalismo gastronômico campestre. Depois muito cancan!! Um prazer, todos se divertindo horrores, inclusive o menino Francisco. A sensação de férias já paira no ar. Antes de dormir, abrimos a cerveja e o mapa para sondar opções de para onde ir, já que ficar na casa não era nosso vontade. No Sudeste a promessa era só chuva. Seja aqui, seja na Canastra, seja... queríamos cachoeira mas talvez a praia fosse a única opção para curtir ao mesmo tempo natureza e sol. Espírito Santo? Ave! Jura? É isso que a vida nos reserva?! Itaúnas é muito longe, Diogo inventou a Barra de Itabapoana como destino possível - será o novo Âmbar?!
[ Em tempo, o Âmbar foi um destino que tivemos em nossas vidas sabe deus escolhido por quem, sabe deus por que motivo. Uma ilha perto da Baía de Camamu cercada de mangue e muuuuitas caravelas. É certo que é uma das viagens que mais temos histórias para contar - mas como destino turístico, no sentido convencional do termo, não dá pra contar... Um dia escrevo nossas histórias encachaçadas vividas na ilha que tem 15 famílias e dois bares. ]
E acabamos decidindo por seguir em linha reta pela BR-381 e depois procurar nos arredores de Guarapari alguma coisa que nos agrade.
Ainda cheios de dúvidas, decidimos partir no dia seguinte, antes que a chuva não nos deixasse nunca mais sair dali.

Dormir, talvez sonhar e, em seguida, partir. No momento da partida, na hora exata em que passávamos próximo a Cachoeira Alta em direção ao longínquo Espírito Santo, um raio de sol nos atingiu. Benza deus que a gente merece. Ir embora sem nem se banhar na cachoeira nos dava calafrios. Fora que, sinceramente, do fundo (raso, bem raso) de nossos corações, queríamos mesmo cachoeira e não praia. Olho no retrovisor encontra olhos no outro carro. "Um mergulhinho antes de seguir?!" Um uníssono: "Sim!!!" Em direção à Cachoeira Alta, põe biquini e vai.
Lá a cachoeira estava furiosa, difícil de entrar com aquela nuvem de respingos típica das cachoeiras com altíssimas quedas (e ainda em tempo de chuva ininterrupta). Eu e Daniel fomos até o fim mesmo com a incrível dificuldade de vencer o vento que vinha da bicha. Precisava. No reencontro molhado com o grupo, a decisão é inevitável: "Foda-se. Ficar. Faça chuva, faça sol."
Montamos acampamento e esperamos o sol chegar... não antes de muuuuita chuva cair, é claro.
A bem da verdade o sol só chegou em 2010. Mas chegou quebrando tudo! Soleira na moleira mesmo. Enquanto isso fizemos o que fazemos muito bem: beber, rir; cozinhar, comer; jogar, conversar. Diversão pura com alguma ruga de preocupação da chuva não ceder. Nada disso!
Depois de uma ceia (com rojões assustadores) e de uma balada festiva (e molhada) recheada de rituais inventados (e surtados), o ano novo e o sol chegaram nada tímidos e, aí sim, a cachoeira foi destino diário. Viva! Lavar a alma para o ano rock'n'roll que vem. Curtimos pocinhos gostosinhos e cachoeiras incríveis. Além de papos deliciosos e elaboradérrimos com o menino Francesco.
No rolê da Cachoeira do Patrocínio e do Meio, Chico andou a trilha toda com suas perninhas, conversando e subindo, já que a trilha é quase inteira de subida. Marcelo caiu de bunda o que nos preocupou deveras. Hérnia já pra dentro!

(O acampamento visto do alto da montanha.)

Chegamos na Cachoeira do Patrocínio e fazia sol - linda e deliciosa de nadar com um grande círculo de pedras no meio e pedras anatômicas para deitar. Em uma hora o lugar ficou totalmente apinhado: visualiza umas 50 pessoas em uma cachu? Infernal total.

(Cachoeira do Patrocínio.)

Fugimos em direção à Cachoeira do Meio, na minha opinião a eleita: poção, quedona, pedras a vontade. Um sonho! Apenas um problema: uma cobra nos noiou. Apareceu de cabecinha fora d'água em direção a Ju e Chico. Marcelo viu e no grito, avisou: "Sobe na pedra." Ela passou. Depois, só depois (ainda bem) viemos a saber que era uma jararaca... Esquece, bota no canto do cérebro e bola pra frente. Cachoeira vazia e de difícil acesso tem dessas.

(Cachoeira do Meio.)

Além dessas cachoeiras maiores e nomeadas, curtimos os pocinhos que delas derivam: playground de adulto. Jacuzzis, pedras para escalar, cantinhos para desvendar. O prazer é todo meu!

Para complementar a viagem acrescentamos ao roteiro 2 destinos: Itabira e Serra dos Alves. Itabira, terra de Drummond e da Vale do Rio Doce, não volto mais. Tica Itabira já que não é nem charmosa como Diamantina nem grande como BH. Nem a Tia Eliana que nos alimentou noz fez tão feliz (destaque para o mousse de maralat - enfim, um ser inteligente produziu o meio chocolate meio maracujá).

(Momentos marcantes nos monumentos da cidade.)

Já a Serra dos Alves, vale uma visita mais dedicada de dias. Cheia de cannions, nascentes e cachoeiras tem caminhadas para todos os gostos e disposições. Uma pousada charmosinha custa uns 80 reais o quarto. Cidade de uma rua meeeeesmo. Um guia, meio não guia, nos levou por 10 reais a Cachoeira do Marques: caminhadinha de uma hora (com criança) debaixo de sol intenso - cerrado - nos leva a uma cachoeira bem grandona com poção e que dá pra pular. Não que eu pule em cachoeiras mas... alilás, o erro aconteceu aí. Nem foto da cachu deu tempo de tirar. O guia, tosco que só, conduziu Daniel, o alérgico, para um cantinho de onde se pula. Lá ele ativou uns meeeega-marimbondos! Pronto, montado o cenário: em 10 minutos o Veloso estava com o lábio de um pajé, o queixo do Professor Aloprado e o braço, pãozinho. E nada de parar de inchar... pena! Nem deu pra curtir. Corre-corre para o posto de saúde a tempo de tomar uma injeção de Fenergan e conter o perigoso inchaço.
Na frente, Daniel, Valerie e Marcelo correram na trilha e no carro, dando a oportunidade do Marcelo brincar de Rally dos Sertões. Nós, eu, o guia e a família 90 atrás conversando e guiando a Mama Tanque para o mesmo destino: Bom Jesus do Amparo. As explicações do ocorrido ao Chico rendeu as frases: "Eu queria que a alergia não existisse" e "To preocupado com o Veloso, ele sempre ajuda tanto todo mundo" - isso tudo diz o super-5anos-menino. Já o guia insistia em repetir o discurso, não sei bem por que, de que aquele era o marimbondo caçador que vai atrás das vítimas. Preocupa-nos traumatizar a criança (já basta o episódio rojão na fogueira, ou ainda o cobra na cachoeira, ou por que esquecer o botijão explosivo do fogareiro...) Olha a foto dele se protejendo do botijão explosivo. Coxinha no bar do reencontro com os amigos e vamos para o camping desmontar, jantar e dormir no Tomás - parte para preparar para SP e parte, nós, para BH.
Depois de mais um super rango, fomos para o Tomás onde dormimos feito anjos. (Lembrar de nunca mais levar essas bostas de colchões inflados do inferno!!!)

No dia seguinte, dia 5, café da manhã e despedidas. Chico me abraça e diz "Vou sentir saudades, queria ir com vocês", Marcelo me recolhe da poça em que me tornei e partimos. Nossos amigos seguiram para SP e nós a BH onde esticamos por mais dois dias a viagem para irmos a Inhotim na 5ª.
Em BH, tivemos grande dificuldade de arrumar um lugar para ficar. A promessa de que no centro tudo era acessível era muito, muito falsa. Acabamos num Fórmula 1 (R$ 95,00 a diária). Demos um bom rolê na cidade com direito à muita cerveja, feijão tropeiro, queijo e compritchas com dinheiro que não temos - somos craques nisso, afinal nunca temos dinheiro mesmo. Mercadão (adoooooro!), Pampulha, Museu Giramundo, Parque Municipal, Pça. R. Soares. Tivemos até que comprar roupa pois as nossas estavam muito sujas e quem disse que é paulista que gosta de shopping?! Todos os mineiros, com cara de paulistas, estavam lá. Credo!
De 4ª para 5ª dormimos no Alpes BH Hostel (R$ 68,00 a diária com café) e na 5ª logo cedo partimos para Inhotim - o personal Centro de Arte Contemporânea do Sr. Bernardo Paz. Assim como Pompéia na Itália, Inhotim foi a cereja do bolo da viagem. Um deleite. Um parque-museu só com objetos e instalações montadas com o rigor que os artistas sonham. Os prédios são montados para abrigar as obras - tudo perfeitim... Como tenho muita rejeição às pessoas que batem fotos em museus, mesmo querendo guardar imagens como lembrança, não consigo tira-las. Fica essa do Cildo como referência ("Inmensa"), o resto é bom ver no site.


De volta ao carro, boas risadas e muita chuva nos levaram no dia 7 à nossa deliciosa, cheirosa e limpinha residência.
Vale, como sempre quis, disponibilizar nosso rico cardápio de acampamento só para contrariar aqueles que pensam que só se faz macarrão em acampamento: com um fogareiro (explosivo) bunda de foguete e um fogo selvagem (grelha, carvão e tronco) e 3 panelas fizemos:
- Arroz, lentilha com cenoura, linguiça com cebola, batata cozida e salada de repolho, cebola e pepino;
- Macarrão tipo campestre: molho rosé, atum, vagem, cebola e queijo ralado;
- Churrasco de contra filet, linguiça e lombo com pão e vinagrete;
- Ceia de ano novo: arroz com leite de coco, lombinho na cerveja (na brasa), salada de grão de bico com pimentão, tomate, beterraba, pepino e cebola;
- Abóbora recheada com carne seca e cebola e arroz;
- Macarrão a bolonhesa nojenta (precisava ver a carne moída que conseguimos em Ipoema);
- Lombinho com mostarda, batata cozida, arroz e salada de tomate.

Para finalizar fica a sequência incrível de imagens do diário do Chico que foi feito a muitas mãos. Clique aqui para visualiza-lo. Vá clicando nas imagens para mudar para a página seguinte.

Um comentário:

  1. ô... que delícia... isso é o que eu chamo de parar o trem, hein, nega...? E sabe o Papai Noel que deu a casa, o céu que fez vir o sol na hora certa...? Isso é o fluxo. Vcs, ó, surfaram à beeeeça no fluxo...
    bora aprontar uma dessas juntas. isso ainda falta na nossa composição sempre feliz...
    :)

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